Cláudia Martinelli
A indústria farmacêutica, tradicionalmente focada em inovação e desenvolvimento de medicamentos, está descobrindo que a sustentabilidade é o novo ingrediente para o sucesso. Uma pesquisa realizada pela PwC revelou que empresas do setor que adotaram práticas ESG (Environmental, Social, and Governance) obtiveram retornos financeiros consideráveis. A Amgen, empresa de biotecnologia, conseguiu reduzir seus custos operacionais em US$250 milhões em 12 anos ao investir em tecnologias limpas e processos mais eficientes.
Mas o que é sustentabilidade e como ela se aplica à indústria farmacêutica?
Sustentabilidade refere-se a práticas que visam preservar o meio ambiente, melhorar a qualidade de vida das comunidades e garantir a viabilidade econômica a longo prazo. Na indústria farmacêutica, isso se traduz em práticas que otimizam a utilização de recursos, promovem a equidade social e garantem a governança corporativa transparente.
Os princípios ESG, integrados às normas IFRS S1 e S2, oferecem uma estrutura clara para as empresas reportarem seu desempenho em sustentabilidade. O IFRS S1 trata da divulgação de riscos e oportunidades financeiras relacionados à sustentabilidade, enquanto o IFRS S2 foca em mudanças climáticas. Essas normas ajudam as empresas a comunicarem seus esforços de forma padronizada, tornando-as mais transparentes e atrativas para os investidores.
A indústria farmacêutica enfrenta diversos desafios, como a utilização intensiva de água e o alto consumo de energia, tornando-a suscetível aos riscos relacionados às mudanças climáticas, tanto ambientais quanto regulatórios. A sustentabilidade fornece soluções para esses desafios, ao mesmo tempo em que pode gerar retornos financeiros para a empresa. Um exemplo disso é a instalação de biofabricação com sistema de purificação contínua e a utilização de química verde, por meio da qual a Amgen reduziu o consumo de energia e água em 73% e 54% respectivamente. Além disso, com o aumento de rendimento, conseguiu diminuir em 71% o uso de solventes durante o ciclo de vida de desenvolvimento e em 40% o tempo de operação.
Outro exemplo é o programa de Tecnologias Sustentáveis da Cardinal Health, que reprocessa dispositivos médicos de uso único, estendendo a vida útil de milhões de dispositivos e evitando que toneladas de resíduos sejam enviadas para aterros. Isso não só reduz o impacto ambiental, mas também oferece uma oportunidade de economia significativa para os hospitais.
Nos aspectos social e financeiro, a diversidade em ensaios clínicos é essencial para garantir que novos tratamentos sejam eficazes para todas as populações, especialmente àquelas mais afetadas pelas doenças. A eficácia e segurança dos medicamentos é um fator fundamental para uma aprovação regulatória célere e, consequentemente, para os resultados da empresa.
Outro ponto nevrálgico desse setor é a necessidade do desenvolvimento de cadeias de suprimentos resilientes e diversificadas. Muitas empresas farmacêuticas estão investindo para garantir a continuidade do fornecimento e reduzir vulnerabilidades. Dentre as ações mitigatórias, está o trabalho em rede para apoiar os fornecedores a adotarem medidas alinhadas às suas estratégias ESG.
A cadeia de suprimentos do setor também é responsável por boa parte das suas emissões de gases do efeito estufa. Um estudo da McKinsey com aproximadamente 40 empresas farmacêuticas mostrou que cerca de 75% das emissões ao longo da sua cadeia de valor são de Escopo 3, sendo metade delas proveniente a montante, especificamente da categoria de compras de bens e serviços. Dessa forma, a descarbonização do processo de produção química depende de parcerias com fornecedores em busca de fontes de combustível e energia alternativos, assim como formas de captura e estocagem de carbono.
A adoção de práticas sustentáveis e o alinhamento com as normas IFRS S1 e S2 trazem inúmeros benefícios para as empresas farmacêuticas. Desde a redução de custos operacionais até a atração de investidores e a melhoria da reputação corporativa, os princípios ESG constituem uma base forte para o sucesso a longo prazo.
É o momento de transformar desafios em oportunidades. Ao integrar práticas ESG e seguir as normas IFRS S1 e S2, sua empresa não apenas estará na vanguarda da inovação e responsabilidade corporativa, mas também estará pavimentando seu caminho para resultados mais positivos e consistentes. Os líderes e tomadores de decisão do setor têm a possibilidade de guiar suas empresas rumo a um horizonte mais resiliente e próspero. Não é apenas uma questão de conformidade, mas de visão e liderança.
A sustentabilidade é a receita para um futuro saudável e lucrativo. Vamos juntos liderar essa transformação e garantir que a indústria farmacêutica seja um exemplo de inovação responsável e sucesso duradouro. A hora de agir é agora.
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